Um recente estudo abre caminho para um envelhecimento saudável
- O conceito de “superaging” surgiu no Northwestern Alzheimer’s Disease Research Center (ADRC) para identificar pessoas com ≥80 anos que apresentam desempenho de memória episódica igual ou superior ao de indivíduos 20–30 anos mais jovens.
- A ideia nasceu após um achado neuropatológico de uma mulher de 81 anos, sem declínio cognitivo, que tinha apenas um emaranhado neurofibrilar no córtex entorrinal — algo extremamente raro para essa idade.
- O programa foi formalmente iniciado em 2000–2001, com apoio da Davee Foundation e posteriormente do NIA.
Definição e Critérios
- Superager: ≥80 anos, com recordação tardia ≥9/15 palavras no teste RAVLT (equivalente à média de 56–66 anos; muito acima da média de 80+ anos, que é 5/15).
- Além da memória, devem manter desempenho dentro da média em outras funções cognitivas.
- Amostra até o momento: 290 participantes, sendo 133 ativos (101 superagers e 32 controles neurotípicos, idade média ≈ 90 anos).
- Não houve estilo de vida específico determinante (dieta, exercício, tabaco, álcool, doenças crônicas semelhantes entre grupos). O traço mais consistente foi sociabilidade e extroversão.
Principais Achados de Neuroimagem
- Idosos típicos ≥80 anos apresentam acentuada redução cortical em comparação a controles de 50–60 anos.
- Superagers não apresentaram esse afinamento cortical e em alguns casos mantinham espessura semelhante a adultos jovens.
- Surpreendentemente, o córtex cingulado anterior (BA24) é mais espesso em superagers do que até em indivíduos 20–30 anos mais jovens.
- Essa região é fundamental para motivação, emoção e redes sociais, características também marcantes nos superagers.
Principais Achados de Neuropatologia
- Neurônios von Economo (VENs)
- Superagers têm maior densidade de VENs no cíngulo anterior, até superior à de adultos jovens.
- Esses neurônios estão associados a comportamento social e empatia, reforçando o perfil sociável observado.
- Degeneração neurofibrilar (Tau)
- Superagers apresentam menos emaranhados neurofibrilares no córtex entorrinal/hipocampo do que pares da mesma idade.
- Evidenciam resistência ao aparecimento de patologia ou resiliência aos efeitos dela.
- Neurônios do entorrinal (camada II) são maiores em superagers, possivelmente conferindo proteção.
- Biomarcadores plasmáticos mostraram níveis mais baixos de p-tau181.
- Sistema colinérgico basal
- Superagers têm menos degeneração dos neurônios colinérgicos e menor densidade de neurônios ricos em acetilcolinesterase → menor degradação de acetilcolina → maior eficiência sináptica.
- Microglia
- Ativação microglial (marcador de inflamação e neurodegeneração) é significativamente menor em superagers, sugerindo redução da inflamação cerebral.
Estudo de Caso (25 anos de acompanhamento)
- Mulher acompanhada desde os 60 anos.
- Aos 80 anos atingiu critérios de superager, mantendo recordação de 11/15 palavras até os 82 anos (quando o esperado para sua idade seria 5/15).
- Exames de imagem mostraram hipocampo e amígdala preservados.
- Autópsia revelou Braak estágio II (baixo), sem depósitos significativos de Aβ, nem outras proteinopatias.
- Notável presença de neurônios von Economo.
Conclusões e Implicações
- O programa demonstrou que é possível escapar do declínio cognitivo médio do envelhecimento.
- Superagers exibem um fenótipo clínico e biológico distinto, caracterizado por:
- morfologia cerebral preservada;
- resistência e resiliência à degeneração neurofibrilar;
- sistema colinérgico robusto;
- abundância de VENs;
- menor inflamação microglial.
- A memória episódica preservada (≥9/15 no RAVLT aos 80 anos) é um marcador confiável de superaging.
- Estudos genéticos preliminares sugerem participação de genes como KLOTHO, BDNF, APOE, REST e TMEM106B, que poderão guiar futuros alvos terapêuticos.
- O conceito de superaging ajuda a redefinir o envelhecimento cerebral e inspira pesquisas globais sobre resistência e resiliência neurocognitiva.
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