Um recente artigo fez uma revisão abrangente sobre os mecanismos biológicos do embranquecimento capilar (canície) — um dos sinais mais visíveis e precoces do envelhecimento humano. O estudo integra perspectivas genéticas, oxidativas, neuroendócrinas, metabólicas e emocionais, posicionando o folículo piloso como um modelo experimental excepcional de envelhecimento humano.
Os autores destacam que o envelhecimento do cabelo reflete o envelhecimento sistêmico, estando associado a doenças como Alzheimer, Parkinson e doenças cardiovasculares. A perda de pigmentação não é apenas estética: ela espelha disfunções mitocondriais, inflamatórias e de estresse oxidativo em nível celular.
2. Onde começa o embranquecimento
O processo de canície inicia-se no bulbo do folículo piloso (unidade pigmentária do folículo, HFPU) e não no nicho de células-tronco da região bulge, como se acreditava. O primeiro evento é a redução da melanogênese, com:
- Diminuição da atividade da tirosinase;
- Transferência defeituosa de melanossomos;
- Apoptose de melanócitos ativos;
- Posterior depleção das células-tronco melanocíticas (MSCs).
Enquanto o bulbo falha primeiro, a exaustão das MSCs torna o processo irreversível.
3. Regulação pelo ciclo capilar
A pigmentação ocorre apenas durante a fase anagênica do ciclo capilar. Na fase telógena, não há melanogênese. Durante o envelhecimento, há perda gradual de melanócitos ativos no bulbo e, mais tarde, das MSCs na região bulge, levando à ausência completa de melanina no fio.
Mesmo fios “brancos” podem conter alguns melanócitos residuais, mas eles já não transferem pigmento para os queratinócitos da haste capilar.
4. Influência genética e epigenética
A genética exerce influência parcial. O único polimorfismo associado de forma consistente é o SNP no gene IRF4, que interage com o MITF para ativar a tirosinase, essencial à melanogênese.
Entretanto, variações individuais entre folículos do mesmo couro cabeludo indicam forte papel do expossoma (fatores ambientais e emocionais).
A expressão gênica reduzida de TYR, DCT, TYRP1, MITF e MC1R, associada a microRNAs inibitórios e colapso dos sistemas antioxidantes, marca o início do processo.
5. Células-tronco melanocíticas (MSCs)
As MSCs são essenciais para regenerar melanócitos após cada ciclo capilar. No entanto:
- O dano oxidativo e genotóxico leva à diferenciação ectópica das MSCs (elas deixam de ser progenitoras e se tornam melanócitos maduros precocemente).
- A perda de colágeno XVII (Col17a1) e a redução de TGF-β quebram a quiescência das MSCs, acelerando a perda do nicho.
- O estresse simpático e o cortisol também promovem a diferenciação precoce e o esgotamento dessas células
.
6. Papel do estresse oxidativo
É o mecanismo central da canície. O folículo capilar pigmentado é um dos tecidos humanos com maior taxa de geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) devido à própria melanogênese.
Nos cabelos grisalhos há:
- Redução drástica de catalase, MSRA/MSRB, SOD e glutationa peroxidase;
- Acúmulo de H₂O₂ em níveis milimolares;
- Dano mitocondrial (deleções de mtDNA) e apoptose de melanócitos;
- Oxidação do resíduo de metionina-374 da tirosinase, inibindo sua função — efeito revertido por L-metionina;
- Deficiência de melatonina intrafolicular, que normalmente atua como antioxidante e sincronizador do relógio circadiano
.
O resultado é um ciclo vicioso: menos pigmento → menos defesa antioxidante → mais ROS → morte celular.
7. Fatores externos e neuroendócrinos
O eixo HPA intrafolicular (CRH, ACTH, α-MSH) e o eixo tireoidiano (TRH, T3, T4) regulam a pigmentação.
Com o envelhecimento, ocorre queda local desses hormônios, levando à menor expressão de MITF e tirosinase.
O estresse emocional, via substância P e atividade simpática, agrava a depleção de MSCs.
A luz ultravioleta e o tabagismo são fontes adicionais de ROS que danificam o folículo.
8. Fatores reversíveis
Embora a canície completa seja irreversível, existem casos documentados de repigmentação:
- Após interrupção de quimioterapia;
- Durante uso de antidepressivos (fluoxetina);
- Após terapia tireoidiana (T4);
- Com fármacos como erlotinibe, sorafenibe, tamoxifeno e levodopa;
- Sob estresse emocional resolvido ou por reposição hormonal.
Esses eventos sugerem que, em estágios iniciais, o folículo ainda retém melanócitos viáveis capazes de reativar a pigmentação.
9. Perspectivas terapêuticas
O artigo propõe futuras linhas de intervenção:
- Antioxidantes mitocondriais (como melatonina, catalase tópica, SOD, L-metionina);
- Modulação do eixo HPA e tireoidiano local;
- Ativadores de MITF e TRP-1;
- Regulação circadiana (BMAL1, CLOCK);
- Terapias de reativação de MSCs em estágios precoces.
10. Conclusão
“A canície é uma manifestação periférica de envelhecimento celular, neuroendócrino e mitocondrial sistêmico.
Ela começa com falhas no controle redox do folículo, passa pela disfunção da melanogênese e culmina na exaustão das células-tronco melanocíticas.
A melatonina é apontada como um eixo central — antioxidante, cronorregulador e protetor mitocondrial — cuja queda parece acelerar o processo.A biologia do cabelo branco é, na verdade, um espelho da biologia do envelhecimento humano. Priorizar o sono é o primeiro passo no tratamento da canície.” – Finaliza o Dr. Daniel Benitti, cirurgião vascular médico especialista em Lipedema que atende em São Paulo, Campinas e a distância (online).
Para consulta e agendamento com o Dr. Daniel Benitti em Campinas, ligue para (19) 3233-4123 ou (19) 3233-7911.
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