Um recente estudo investigou alterações no perfil lipídico plasmático em homens e mulheres com Alzheimer (AD), com foco em identificar diferenças sexuais. Como as mulheres representam cerca de dois terços dos casos de AD, os autores buscaram entender se existem assinaturas lipídicas específicas associadas ao sexo que possam explicar essa maior vulnerabilidade.
👥 Metodologia
- Cohort: 841 participantes (306 AD, 165 com comprometimento cognitivo leve – MCI, 370 controles).
- Fonte: AddNeuroMed e Dementia Case Register.
- Lipidômica: 268 lipídios identificados por LC-MS/QTOF, analisados via Weighted Correlation Network Analysis(WCNA).
- Ajustes estatísticos: idade, sexo, local de coleta, genótipo APOE, correção por múltiplos testes (FDR).
- Foram feitas análises gerais e estratificadas por sexo, além de modelos de mediação para avaliar se colesterol, LDL e ApoB explicavam as associações.
📊 Principais Resultados
1. Alterações lipídicas específicas em mulheres
- Módulos de lipídios: 4 módulos associados ao AD no geral, sendo 3 apenas em mulheres (M5, M7, M9) e 1 em homens (M11).
- Mulheres com AD apresentaram:
- Redução de lipídios altamente insaturados (triglicerídeos grandes, fosfatidilcolinas – PC, e fosfatidiletanolaminas – PE).
- Aumento de lipídios saturados ou monoinsaturados (PC e PE, especialmente formas éter/plasmalógenos).
- Nos homens, nenhum lipídio individual foi significativamente associado ao AD.
2. Relação com cognição e biomarcadores
- Lipídios altamente insaturados correlacionaram-se positivamente com MMSE (melhor desempenho cognitivo).
- Lipídios saturados correlacionaram-se negativamente com MMSE.
- Vários lipídios insaturados tiveram associação inversa com NfL (neurodegeneração) e GFAP (neuroinflamação).
3. Papel do grau de insaturação
- Quanto mais duplas ligações (insaturação), menor o risco de AD em mulheres.
- Lipídios com DHA/EPA (ômega-3) incorporados foram os mais reduzidos.
- Sugere-se que a perda de ácidos graxos poli-insaturados comprometa fluidez de membrana, plasticidade sináptica e sinalização neuronal.
4. Análise de mediação
- Parte dos efeitos dos lipídios insaturados foi mediada por colesterol, LDL e ApoB, mas não totalmente → implicando mecanismos adicionais independentes.
- Não houve mediação via HDL ou triglicerídeos totais.
5. Plasmalógenos e LPCs
- Plasmalógenos (PC-O e PC-P) estavam aumentados em mulheres com AD → possivelmente resposta anti-inflamatória compensatória.
- Lysophosphatidylcholines (LPCs) aumentaram em AD (principalmente mulheres). Como LPCs transportam DHA para o cérebro, isso pode refletir escassez de ácidos graxos poli-insaturados.
🧠 Discussão e Implicações
“O estudo demonstra que o perfil lipídico do AD é fortemente dependente do sexo, com mulheres apresentando um déficit pronunciado de lipídios insaturados.
Essas alterações podem explicar: Maior suscetibilidade feminina. Relação com metabolismo de ácidos graxos essenciais (DHA/EPA). Mas abre caminho para intervenções futuras: Suplementação de ômega-3 (DHA/EPA) para prevenção/mitigação do déficit lipídico em mulheres. Estratégias personalizadas baseadas no sexo para biomarcadores e terapias. Abre mais espaço para a reposição hormonal em relação a esses perfis.” – Resume o Dr. Daniel.
📌 Conclusão
O estudo reforça a importância de análises estratificadas por sexo em Alzheimer, mostrando que:
- Mulheres com AD têm menos lipídios poli-insaturados e mais saturados, com repercussão em cognição e biomarcadores.
- Essas alterações não foram detectadas em homens.
- Isso abre caminho para abordagens preventivas e terapêuticas específicas para mulheres, com foco em metabolismo lipídico e ácidos graxos essenciais.
Para consulta e agendamento com o Dr. Daniel Benitti em Campinas, ligue para (19) 3233-4123 ou (19) 3233-7911.
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