Esse tipo de discriminação não é considerado crime mas é mais prevalente do que a discriminação baseada em raça ou etnia.
Nos últimos 40 anos nenhum país no mundo apresentou estabilidade do peso médio da população. Em todos os países as pessoas ganharam peso.
Apresentar um corpo diferente não é fácil devido a quantidade monstruosa de propagandas de corpos “perfeitos” mas que na verdade são cheios de ajustes, filtros e estão longe de ser saudáveis. Isso gerou uma cultura de estigma de peso/corpo correspondentemente difundida e forte. Esse tipo de discriminação que não é considerada crime é mais prevalente do que a discriminação baseada em raça ou etnia.
O estigma do peso/corpo é a rejeição social e desvalorização que se acumula para aqueles que não cumprem as normas sociais predominantes de peso e forma corporal adequados. Simplificando, o estigma do peso é uma forma de discriminação baseada no corpo de uma pessoa.
“ Esse tipo de estigma afeta muito as mulheres com lipedema. Essa busca por um corpo perfeito e uma sequência de frustrações gera um mal muito grande na mulher. O estigma pode desencadear mudanças no corpo, como o aumento dos níveis de cortisol, que levam a uma piora da inflamação e ganho de peso. Além disso, aquelas com maior peso corporal podem lidar com o estigma aumentando o uso de álcool e outras substâncias, comendo demais para lidar com emoções negativas e evitando lugares públicos como praias ou piscinas ou encontros sociais. Os resultados negativos subsequentes para a saúde são resultado de um estresse social crônico. Comprar uma bota ou colocar uma saia podem gerar um estresse enorme. Existem estudos que relatam que isso pode aumentar o risco de morte em 60% independente do IMC.
Há muitas maneiras de abordar o estigma do peso/corpo. A primeira é reconhecer que ele existe e divulgar a informação. Não podemos combater algo se não o reconhecermos primeiro.
Em um estudo clássico realizado no final da década de 1950, crianças de 10 e 11 anos viram seis imagens de crianças e pediram para classificá-las na ordem de qual criança eles “gostavam mais”. As seis imagens incluíam uma criança com peso “normal”, uma criança “obesa”, uma criança em cadeira de rodas, uma com muletas sem uma perna, uma sem uma mão e outra com desfiguração facial. Em seis amostras de diferentes origens sociais, econômicas e raciais/étnicas de todos os Estados Unidos, a criança com obesidade ficou em último lugar.
Resumindo, isso não é novo mas assim como o Lipedema é pouco divulgado.
As mulheres são particularmente mais estigmatizadas em vários setores, incluindo emprego, educação, mídia e relacionamentos amorosos, entre outros. É importante ressaltar que o estigma do peso/corpo também é difundido nos ambientes de saúde, e foi observado entre médicos, enfermeiros, estudantes de medicina e nutricionistas. As famosas frases “precisa se exercitar e comer menos” ou “precisa emagrecer” deviam ser proibidas de serem pronunciadas por profissionais da saúde. É muito mais complexo e precisamos de profissionais mais capacitados para entender isso.
A natureza do viés do profissional de saúde abrange o endosso de estereótipos negativos de pacientes com obesidade e lipedema, incluindo termos como ‘preguiçosa’, ‘pouca força de vontade’ e ‘fraca’. Inconscientemente, o profissional sente menos respeito por essas pessoas e acaba considerando eles como sem opção de tratamento ou ‘perda de tempo’. Isso machuca muito a pessoa que está apenas procurando tratamento.
Nada machuca mais do que procurar um profissional, fazer tudo o que ele pediu, não ter o resultado esperado e ainda ser considerada culpada por isso.
“ No lipedema, os médicos devem entender e acreditar nos relatos das pacientes sobre ingestão alimentar e atividade física. Muitas se sentem estigmatizadas como comilonas e preguiçosas. A visita clínica deve ser focada na coleta de informações e na compreensão da situação particular da paciente. O encaminhamento a um especialista em obesidade pode ser justificado se o médico não se sentir à vontade para discutir ou prescrever diferentes opções de tratamento. Mas a paciente sempre deve se sentir acolhida.”
O estigma do peso/corpo causa piora da saúde global e ganho de peso, portanto, deve ser erradicado. Esse esforço pode começar treinando profissionais de saúde compassivos e conhecedores que prestarão melhores cuidados e, em última análise, diminuirão os efeitos negativos do estigma nas pessoas. Sem dúvida alguma, esse impacto será ainda maior nas mulheres com lipedema.
o Dr. Daniel Benitti, cirurgião vascular médico especialista em Lipedema que atende em São Paulo, Campinas e a distância (online).
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