
Um recente estudo estimou a prevalência mundial e as características clínicas da sensibilidade ao glúten/trigo não celíaca autorrelatada (NCGWS) através de revisão sistemática e metanálise.
🔎 Metodologia
- Revisão sistemática e metanálise seguindo PRISMA 2020.
- Bases pesquisadas: MEDLINE, Embase, Scopus e Web of Science até maio/2025.
- 25 estudos incluídos, totalizando 49.476 participantes, provenientes de 16 países.
- População geral; casos hospitalares não foram incluídos.
- Análise por modelo de efeitos aleatórios.
📊 Principais Resultados
✅ Prevalência global
- 10,3% (IC 95%: 7,0–14,0%) da população relata alguma sensibilidade a glúten/trigo.
Ou seja: 1 em cada 10 pessoas no mundo acredita ter sintomas relacionados ao consumo de glúten/trigo.
👩🦰 Diferenças por sexo
- Mulheres têm maior probabilidade de relatar NCGWS:- Prevalência em mulheres: 14%
- Prevalência em homens: 7,6%
- OR 2,29 → quase 2,3× mais frequente em mulheres
 
🌍 Variação por país
Grande variabilidade entre nações:
- Menores taxas: Chile (0,7%)
- Moderadas: França (2,4%), EUA (5,1%), Brasil ~10%
- Maiores: Reino Unido (23%), Arábia Saudita (36%)
Diferenças refletem fatores culturais, percepção pública, marketing de dieta sem glúten e métodos de estudo.
🤢 Sintomas mais comuns
Gastrointestinais:
- Distensão abdominal — 71%
- Desconforto abdominal — 46%
- Dor abdominal — 36%
- Constipação — 26%
- Diarreia — 21%
- Náuseas — 13%
Extraintestinais:
- Fadiga — 32%
- Cefaleia — 18%
- Artralgia — 10%
- Rash cutâneo — 7%
🧠 Comorbidades psicológicas
Indivíduos com NCGWS têm maior probabilidade de:
- Ansiedade → OR 2,95
- Depressão → OR 2,42
Reforça a ligação com transtornos de interação intestino-cérebro.
🌀 Associação com Síndrome do Intestino Irritável (SII/IBS)
- OR 4,78 → quase 5× maior chance de ter IBS
- Aproximadamente 28% dos indivíduos com NCGWS relatam sintomas compatíveis com IBS.
🍞 Aderência à dieta sem glúten
- 40% das pessoas que se consideram sensíveis seguem dieta sem glúten.
🩺 Diagnóstico médico
- Apenas 32% relatam diagnóstico formal.
- Sugere autodiagnóstico e conduta alimentar sem orientação.
❌ Prevalência de doença celíaca e alergia ao trigo
No mesmo conjunto de estudos:
- Doença celíaca autorrelatada: 0,7%
- Alergia ao trigo: 0,8%
Mostra que a prevalência de NCGWS autorrelatada (10,3%) supera vastamente as condições orgânicas documentadas.
🧬 Interpretação e Discussão
- Os achados sugerem que NCGWS pode estar mais inserida no espectro dos distúrbios de interação intestino-cérebro (DGBI) do que ser uma entidade imunológica semelhante à doença celíaca.
- Estudos controlados demonstram forte efeito nocebo: sintomas podem ocorrer mesmo sem ingestão real de glúten.
- Em muitos casos, sintomas atribuídos ao glúten podem ser desencadeados por FODMAPs, especialmente frutanos, abundantes em alimentos à base de trigo.
- A alta adesão a dietas sem glúten sem orientação médica pode resultar em:- Risco nutricional
- Custos financeiros desnecessários
- Sofrimento psicossocial
 
📌 Pontos fortes
- Primeira síntese global robusta
- Amostra grande (>49 mil)
- Diversidade geográfica
- Análises estratificadas e de sensibilidade
⚠️ Limitações
- Alta heterogeneidade dos estudos
- Dados autorrelatados → risco de viés
- Ausência de biomarcadores definidos
- Falta de dados em vários países
✅ Conclusões
- A sensibilidade ao glúten/trigo autorrelatada é comum.
- O quadro apresenta forte:- Predomínio feminino
- Associação com sintomas gastrointestinais e sistêmicos
- Relação com distúrbios psicológicos
- Sobreposição com IBS
 
O estudo sugere reposicionar a NCGWS no espectro dos distúrbios de interação intestino-cérebro (DGBI), prioritizando diagnóstico baseado em sintomas, apoio multidisciplinar e evitando restrições alimentares desnecessárias
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