Antes que a comunidade médica tivesse um melhor entendimento dos mecanismos que causam as doenças, os médicos acreditavam que certas enfermidades poderiam ser originadas de desequilíbrios no estômago. Isso foi chamado de hipocondria (no grego antigo, hipocôndrio se refere à parte superior do abdômen, a região entre o esterno e o umbigo).
Este conceito foi rejeitado à medida que a ciência evoluiu e, por exemplo, poderíamos olhar em um microscópio e ver bactérias, parasitas e vírus. O significado do termo mudou e, por muitos anos, os médicos usam a palavra “hipocondríaco” para descrever uma pessoa que tem um medo persistente, muitas vezes inexplicável, de ter uma doença grave. Mas, e se esse conceito antigo de doenças originadas no intestino realmente contiver alguma verdade? Será que algumas das doenças crônicas que a sociedade enfrenta hoje podem estar associadas a um sistema gastrointestinal disfuncional?
Uma única camada de células contíguas separa o interior do corpo do ambiente externo, protegendo-o de micróbios e antígenos potencialmente nocivos. Esta barreira intestinal é composta por um revestimento de células epiteliais conectadas por junções que selam os espaços paracelulares entre os enterócitos. Originalmente consideradas estáticas, as tight junctions são agora conhecidas como porteiros dinâmicos, abrindo e fechando em resposta a fatores dietéticos, sinais neuronais e patógenos.
“A importância da barreira intestinal tornou-se aparente na década de 1990, quando os pesquisadores injetaram extratos de bactérias diretamente na parede do cólon de ratos. Isso desencadeou uma inflamação sistêmica e um distúrbio inflamatório no intestino semelhante à doença de Crohn. Desde então, a perda da integridade da barreira intestinal demonstrou afetar a homeostase imunológica e desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento de uma variedade de condições, incluindo doença inflamatória intestinal, síndrome do intestino irritável, doença celíaca, tireoidite, diabetes mellitus tipo 1, artrite reumatóide, doenças auto-imunes e Lipedema”, relata o Dr. Daniel Benitti, cirurgião vascular, médico especialista em Lipedema, que atende em São Paulo, Campinas e a distância.
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Dentro da nossa barriga, temos um revestimento intestinal extenso que cobre mais de 370 metros quadrados de área de superfície. Quando funcionando corretamente, ele forma uma barreira rígida que controla o que é absorvido pela corrente sanguínea. Um revestimento intestinal insalubre pode ter grandes rachaduras ou buracos, permitindo que alimentos parcialmente digeridos, toxinas e bactérias penetrem nos tecidos abaixo dele. Isso pode desencadear inflamação e alterações na flora intestinal (bactérias normais) que podem levar a problemas dentro e fora do trato digestivo. Muitos estudos mostram que modificações nas bactérias intestinais e inflamação podem desempenhar um papel no desenvolvimento de várias doenças crônicas comuns.
Todos nós temos algum grau de permeabilidade intestinal, já que essa barreira não é completamente impenetrável (e não deveria ser!). Alguns de nós podem ter uma predisposição genética e podem ser mais sensíveis a mudanças no sistema digestivo, mas o nosso DNA não é o único culpado. A vida moderna pode, na verdade, ser a principal causa da inflamação intestinal. Há evidências emergentes de que a dieta ocidental padrão, que é pobre em fibras e rica em açúcar e gorduras saturadas, pode iniciar esse processo. O uso excessivo de álcool e o estresse também parecem atrapalhar esse equilíbrio.
Alguns estudos mostram que esse aumento da permeabilidade pode estar associado a doenças autoimunes (lúpus, diabetes tipo 1, esclerose múltipla), síndrome da fadiga crônica, fibromialgia, artrite, alergias, asma, acne, obesidade, Lipedema e até doenças mentais.
Pesquisadores alemães publicaram um estudo na Gastroenterology em 2014, no qual descreveram a investigação de suspeitas de intolerâncias alimentares em 36 pacientes usando endomicroscopia confocal a laser (CLE) para visualização em tempo real de mudanças estruturais no epitélio intestinal após a exposição alimentar.
Durante o estudo, antígenos alimentares diluídos foram administrados diretamente na mucosa do intestino delgado por meio de um endoscópio. Vinte e dois dos 36 pacientes apresentaram resposta aos antígenos; dentro de cinco minutos após a exposição, as lacunas epiteliais se formaram e os espaços intervilosos se alargaram na mucosa intestinal. Não houve resposta nos 14 pacientes restantes ou nos 10 controles. Os pacientes que apresentaram uma resposta positiva foram então colocados em uma dieta de exclusão. Todos experimentaram uma melhora de mais de 50% nos sintomas após quatro semanas e uma melhora de 74% em 12 meses.
“O primeiro desafio é determinar se uma pessoa é realmente sensível a um determinado alimento. Diagnosticar uma sensibilidade alimentar pode ser difícil, pois temos outros fatores que afetam a permeabilidade intestinal, como antiinflamatórios não esteróides e tabagismo, inflamação crônica e alterações no microbioma intestinal. Se uma paciente com sensibilidade alimentar quiser ser diagnosticada corretamente, todos esses outros fatores devem ser levados em consideração e, felizmente, hoje temos exames bons que podem ser colhidos em casa”, indica o Dr. Daniel Benitti.
Embora ainda seja incomum ouvir o termo “permeabilidade intestinal aumentada” na maioria dos consultórios médicos, já temos evidências há décadas de que a cura do intestino é um passo inicial para tratar doenças crônicas. Um passo inicial fundamental é remover alimentos que podem ser inflamatórios e promover mudanças na flora intestinal. Entre os mais comuns estão o álcool, alimentos processados, certos medicamentos e quaisquer alimentos que possam causar alergias ou sensibilidades.
Lembrando que, quanto mais a pessoa varia os alimentos ingeridos, menor a chance de um alimento causar inflamação e aumento da permeabilidade intestinal. O ideal é se alimentar de 16-17 alimentos saudáveis diferentes.
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Para consulta e agendamento com o Dr. Daniel Benitti em Campinas, ligue para (19) 3233-4123 ou (19) 3233-7911.
Para consultas com o Dr. Daniel Benitti em São Paulo, ligue para (11) 3081-6851.
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