O uso excessivo de smartphones (ESU) tem sido comparado a transtornos aditivos devido às suas semelhanças em termos de padrões de compulsão, desejo e impacto psicossocial.
Estudos anteriores indicam que pessoas com ESU apresentam mudanças na estrutura e função cerebral em regiões ligadas à recompensa, impulsividade e processamento emocional – padrões similares aos observados em transtornos por uso de substâncias e vício em jogos eletrônicos.
Um recente estudo verificou se a privação do smartphone por 72 horas levaria a mudanças na atividade cerebral em regiões associadas à dependência, recompensa e controle inibitório.
Metodologia
Participantes: 25 jovens adultos (13 mulheres e 12 homens), recrutados entre 18 e 30 anos. Critérios de inclusão: Uso regular de smartphones Ausência de transtornos psiquiátricos graves ou dependência química Fluência em alemão Ausência de contraindicações para ressonância magnética
Intervenção: Os participantes passaram 72 horas sem usar seus smartphones ou dispositivos equivalentes. Durante esse período, seu estado emocional, comportamento e reatividade a estímulos foram avaliados.
Avaliação: Exames de ressonância magnética funcional (fMRI) foram realizados antes e depois da restrição para medir a atividade cerebral frente a imagens de smartphones ligados e desligados. Medidas psicométricas foram utilizadas para avaliar craving (desejo de uso), sintomas depressivos e padrões de comportamento compulsivo.
Principais Resultados
1. Mudanças na Atividade Cerebral Após 72h Sem Smartphone Aumento significativo da atividade no núcleo accumbens e no córtex cingulado anterior (p < 0.001) – regiões associadas à recompensa, desejo e processamento emocional. A atividade no córtex parietal superior estava correlacionada com maior craving pelo smartphone (p < 0.05). A ativação do núcleo accumbens também foi associada a níveis mais altos de sintomas depressivos.
2. Relação com Neurotransmissores As mudanças observadas na atividade cerebral estavam associadas a sistemas de dopamina e serotonina (pFDR < 0.05), neurotransmissores fundamentais para a regulação da recompensa e comportamento compulsivo. A ativação do córtex cingulado anterior sugere um mecanismo de abstinência similar ao de substâncias psicoativas.
3. Impacto Comportamental Não houve aumento significativo nos sintomas de abstinência ou no desejo consciente pelo smartphone (craving). Entretanto, mudanças na atividade neural indicam que a privação do smartphone ativa mecanismos cerebrais de desejo e impulsividade.
Conclusões e Implicações
O que aprendemos? A privação do smartphone por 72 horas provoca mudanças na atividade neural em áreas ligadas ao vício e desejo, mesmo sem sintomas comportamentais explícitos. As regiões afetadas são as mesmas envolvidas em transtornos de dependência, sugerindo que o uso excessivo de smartphones pode compartilhar mecanismos neurológicos com vícios comportamentais e químicos. A relação com dopamina e serotonina reforça a ideia de que a abstinência pode gerar um impacto emocional e fisiológico significativo.
O que isso significa na prática? A dependência de smartphones pode não ser apenas psicológica, mas também neuroquímica. Restringir o uso pode ser desafiador neurologicamente, mas pode ajudar a reduzir padrões compulsivos ao longo do tempo. Mais estudos são necessários para explorar estratégias eficazes de desintoxicação digital e seu impacto na saúde mental.
Conclusão Final:
Este estudo comprova que a abstinência de smartphones causa mudanças significativas na atividade cerebral, especialmente em áreas associadas ao desejo e recompensa. Os achados sugerem que o uso excessivo de smartphones pode ser um comportamento viciante, compartilhando mecanismos neuroquímicos com transtornos de dependência.
Para consulta e agendamento com o Dr. Daniel Benitti em Campinas, ligue para (19) 3233-4123 ou (19) 3233-7911.
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